quinta-feira, 19 de julho de 2012

Afrodite e suas representações na arte


            Uma das deusas mais adoradas na Grécia durante a Antiguidade Clássica foi Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Os cultos dedicados a essa personagem da mitologia eram realizados principalmente em Pafos, Atenas e Corinto. As primeiras histórias sobre Afrodite provavelmente começaram a ser contadas na ilha de Citera, um entreposto comercial e cultural entre Creta e o Peloponeso. A ilha era um local por onde passava um número enorme de pessoas, que, após deixarem a ilha e irem para outras partes da Grécia, levavam consigo o conhecimento do mito de Afrodite e o espalhavam pelas diversas regiões gregas.
            Aos poucos, a fama de Afrodite foi crescendo, fazendo com que ela se tornasse uma das principais deusas do panteão grego. Ela também é conhecida na mitologia romana, mas sob o nome de Vênus. Por ser tão adorada durante a Antiguidade, Afrodite acabou sendo representada de diversas maneiras em obras de arte. Ela é retratada em pinturas, esculturas e, muitas vezes, são feitas citações sobre ela em inúmeros livros.
Anos depois do auge dos cultos a Afrodite, a história da deusa continuava sendo conhecida em grande parte do mundo. Ela era tão conhecida que Sandro Botticelli, um famoso pintor italiano da época do Renascimento, resolveu ressaltar a presença de Afrodite em suas telas. Seus quadros mais famosos são O Nascimento de Vênus, A Primavera e Vênus e Marte, todos eles tendo a deusa como tema central. No Renascimento, o principal foco dos pintores eram temáticas relacionadas à Bíblia. No entanto, Botticelli resolveu quebrar um pouco esse enfoque cristão, pintando quadros cheios de símbolos pagãos. É claro que, como todos os outros artistas renascentistas, Botticelli também pintou telas com alguns temas bíblicos; mas foram os seus quadros de Afrodite que deram a ele a fama de ser considerado hoje um dos melhores pintores do Renascimento.

O Nascimento de Vênus

A foto do quadro O Nascimento de Vênus está presente em quase todos os livros de história que falam sobre as obras renascentistas. Apesar de a deusa ser referida como “Vênus” no nome dessa tela, ela é exatamente a mesma personagem mitológica conhecida como “Afrodite”. Botticelli utilizou o nome Vênus apenas porque ele era italiano e, na cultura romana, a deusa era conhecida dessa maneira. O quadro foi pintado por volta do ano de 1485 e hoje está exposto na Galleria degli Uffizi, em Florença.
O Nascimento de Vênus retrata o momento em que Afrodite nasceu. Segundo a lenda, o deus Cronos cortou os testículos de seu pai, Urano, e os lançou ao mar. Formou-se então uma grande espuma dos testículos amputados de Urano e, a partir dessa espuma, surgiu Afrodite, a mais bela de todas as deusas. Na antiguidade clássica, a concha do mar era uma metáfora para vagina; e é exatamente em cima de uma concha que a deusa se encontra na imagem do quadro, sendo empurrada até uma ilha pelos sopros de Zéfiro, o deus alado do vento do oeste, e por Clóris, a ninfa companheira de Zéfiro. Na costa da ilha, aparece uma das Horas, que eram consideradas as deusas das estações, esperando por Afrodite para cobri-la com um manto. A figura da deusa encontra-se no centro da tela, perfeitamente equilibrada, e ela pode ser vista como a manifestação física de uma beleza divina e perfeita.

A Primavera

Outro quadro muito famoso de Sandro Botticelli que retrata Afrodite é A Primavera. A tela mostra a chegada dessa estação, com a figura da deusa novamente no centro da imagem. No canto esquerdo do quadro, encontra-se o deus Hermes, que segura um pequeno pedaço de madeira com o qual aponta para o céu, dissipando as nuvens do inverno. No canto direito, surgem Zéfiro e Clóris (os mesmos personagens mitológicos que aparecem na tela O Nascimento de Vênus). Ao lado deles está Flora, que retira flores do seu vestido e as atira no chão, tentando tornar o mundo mais belo e florido. O deus grego Eros, ou Cupido para os romanos, aparece voando na tela apontando sua flecha para as três Graças, símbolos do encantamento, da beleza, da natureza, da criatividade humana e da fertilidade da dança. Mas a figura que mais chama atenção no quadro é a deusa Afrodite, posicionada no centro entre todos os outros personagens, com a mão direita levemente erguida como se estivesse abençoando a chegada da primavera. Ela está ali para avivar os campos e iniciar uma nova estação do ano ao semear flores e beleza.

Vênus e Marte

De acordo com a mitologia grega, Afrodite foi obrigada a se casar com o deus Hefesto. No entanto, Afrodite não o amava e acabou por traí-lo com diversos outros deuses e homens mortais. O seu amante mais famoso foi Ares (ou Marte na mitologia romana), deus da guerra. Na tela de Botticelli intitulada Vênus e Marte, é apresentado o momento de descanso dos dois deuses após o ato do amor. O fato de Afrodite estar acordada e Ares estar dormindo seria uma espécie de metáfora para simbolizar que o amor (Afrodite) vence a guerra (Ares), ou seja, o amor se sobrepõe à guerra, fazendo com que exista uma paz harmoniosa. Atrás dos amantes estão alguns sátiros, entidades com os corpos metade humano e metade de bode. Eles estão brincando com a armadura e a lança de Ares enquanto ele dorme como se zombassem do deus, reforçando a ideia de que a guerra não é forte o bastante perto do amor.
As imagens de Afrodite nesses três quadros de Sandro Botticelli mostram a importância que a deusa possui dentro da mitologia grega. Ela era umas principais deusas olímpicas e, por ser tão importante, foi a figura mitológica mais representada nas artes. A lenda de Afrodite vai muito além de um simples mito; na verdade, o significado da história da deusa é capaz de refletir toda uma cultura da época da Antiguidade Clássica.

Fontes:



domingo, 15 de julho de 2012

Hermes, o jovem deus



Hermes é um dos deuses mais antigos da mitologia grega, cultuado desde o início da Grécia Antiga. Ele era considerado um deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, dos esportes, dos comerciantes, etc. Mas ele era ainda mais famoso por ser o mensageiro dos deuses, o deus dos ladrões, das estradas e viajantes.
            De acordo com a lenda, Hermes seria filho de Zeus com a ninfa Maia. Ele teria nascido em uma gruta na região da Arcádia e, no seu primeiro dia de vida, fugiu da gruta e das proteções de sua mãe para realizar um furto. Hermes roubou cinquenta vacas de seu irmão Apolo e fugiu. Ele sacrificou duas vacas em homenagem aos deuses (foi a partir disso que surgiram os sacrifícios) e retirou as tripas de mais algumas vacas para montar a primeira lira da história, um instrumento musical muito tocado entre os gregos. A lira era feita com o casco de uma tartaruga e com as tripas das vacas. Após esse feito, Hermes ficou conhecido como o deus dos ladrões e o inventor dos sacrifícios.
            Algum tempo depois, Apolo encontrou Hermes e quis castigá-lo por ter roubado suas vacas. No entanto, Hermes entregou sua lira a Apolo, como um pedido de desculpas, e o irmão o perdoou.
            Zeus assistiu tudo isso e percebeu que Hermes era muito perigoso para continuar vivendo na terra, pois provavelmente ele iria continuar praticando furtos. Então, Zeus resolveu chamar Hermes até o Olimpo e lhe incumbiu da missão de ser o mensageiro dos deuses, entregando-lhe sandálias com asas para que pudesse correr mais rápido que a velocidade do vento. Além disso, Hermes também passou a ser o responsável por acompanhar os mortos e conduzi-los até o mundo subterrâneo de Hades.
            Hermes é um deus que apresenta diversos “poderes”. Ele é considerado como o patrono da ginástica, das lutas e dos esportes. Por essa razão, havia várias estatuas dele em ginásios gregos. Mas um dos seus principais feitos foi a criação do fogo. Os gregos antigos acreditavam que foi Hermes quem acendeu a primeira fogueira e, por esse motivo, o consideravam o grande inventor do fogo.
            Por ser uma das figuras mitológicas mais antigas da Grécia, há inúmeras estátuas e templos dedicados a ele. A maior parte dos principais deuses costuma ser representada como seres idosos ou em idade adulta, geralmente usando barbas. No entanto, Hermes é sempre representado como um jovem, sem barba. Isso ocorre, provavelmente, porque ele realizou seus maiores feitos quando ainda era muito novo, logo após seu nascimento.

Fontes:

Os poemas de Hesíodo

Suposto busto de Hesíodo

            Muito do que se conhece sobre mitologia da Grécia Antiga vem de fontes como os poemas épicos gregos do século VIII a. C. O principal poeta desse período foi Homero, autor de Ilíada e Odisseia, consideradas as mais antigas obras literárias do Ocidente. Em suas escritas, Homero narrou alguns supostos acontecimentos que teriam ocorrido durante a Guerra de Troia e relatou o regresso de Odisseu (o protagonista da história) até sua terra de origem após as batalhas.
            No entanto, Homero não foi o único grego a escrever poemas épicos nessa época. Ele foi, de fato, o mais conhecido, e suas obras são lidas até hoje como fontes históricas para compreendermos melhor alguns aspectos da Grécia Antiga; mas houve também um outro indivíduo que escreveu duas obras de fundamental importância – seu nome era Hesíodo, autor de Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. Hesíodo viveu em Ascra por volta do século VIII a. C. e escreveu poemas que relatam as crenças dos gregos nos seus deuses, diferente de Homero, que se ocupou de narrar mais as façanhas dos heróis do que a história dos deuses mitológicos.
            Teogonia é uma espécie de mito cosmogônico, ou seja, descreve a origem do mundo de acordo com a mitologia grega. Esse poema foi escrito em 1022 versos que relatam o surgimento dos primeiros seres mitológicos e as sucessivas gerações de deuses. O principal motivo de os historiados utilizarem Teogonia como fonte de pesquisa é que, a partir dessa obra, é possível entender de maneira bem clara as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição do Universo.
            Hesíodo foi o primeiro a sintetizar os antigos mitos e organizá-los em ordem cronológica. Ele começa seu poema expondo a genealogia dos deuses, desde as primeiras divindades que personificavam os elementos primordiais do Universo (como Caos, Gaia, Tártaro e Eros) até a terceira geração de deuses (Zeus, Hades, Posídon, etc.). O poema descreve várias lendas da mitologia grega, como a história de Zeus que conseguiu destronar seu pai, Cronos, a história do monstruoso Tífon, a luta entre Zeus e os titãs pelo domínio do mundo, o mito de Atena; e, por fim, são descritos os amores entre os deuses e os mortais.
            A outra obra de Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, é centrada na organização do mundo dos mortais, apresentando as origens que explicam e estabelecem a condição humana, falando sobre temáticas como a justiça e os trabalhos. O poema divide-se em duas partes: a primeira parte desenvolve algumas narrativas míticas, como o mito das Cinco Raças e as lendas de Prometeu e Pandora; e, na segunda parte, Hesíodo dá conselhos práticos para a vida agrícola e apresenta vários preceitos morais.
            Ambas as obras de Hesíodo mostram características da antiga sociedade grega. Elas apresentam a visão que os gregos arcaicos possuíam do mundo e a maneira como davam uma grande importância a seus deuses. Crer nas divindades gregas era um comportamento comum de praticamente todos os cidadãos na Grécia, e eles acreditavam realmente que havia uma relação entre esses seres mitológicos e o povo humano. Os poemas de Hesíodo refletem essa relação entre homens e deuses que os gregos acreditavam existir e constituem, portanto, um relato sobre a mentalidade do povo grego.


Fontes:

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A importância dos mitos na Grécia Antiga

             A mitologia grega possui um número enorme de lendas sobre divindades e figuras míticas. Os deuses olímpicos são os seres mais famosos das antigas histórias da Grécia, mas, além deles, os gregos também acreditavam na existência de criaturas fantásticas cujos corpos eram monstruosos e possuíam características fora da realidade (os ciclopes, por exemplos, eram gigantes com apenas um olho no meio da testa; e o Cérbero era um cão de três cabeças que cuidava do portão de entrada para o reino subterrâneo dos mortos). Os mitos sobre essas criaturas serviam para complementar a mitologia e, às vezes, carregavam algum significado com a intenção de passar uma moral para os cidadãos gregos.
            Entre essas figuras mitológicas, estão os centauros, seres com o torso e a cabeça humanos e o corpo de cavalo. Eles eram divididos em dois grupos: os filhos de Íxion e Nefele (que simbolizavam o mal, a força bruta e insensata) e os filhos de Filira e Cronos (que simbolizavam o bem, a força aliada à bondade). Essa classificação para separar dois tipos de centauros é uma metáfora para a civilização – existem também dois tipos de pessoas, aquelas que tendem para o bem e aquelas que tendem para o mal.
            Outra história da mitologia grega é a lenda do minotauro. O rei Minos desejava tornar-se o rei de Creta e, para isso, pediu ajuda de Posídon, deus dos mares. Ao auxiliar Mitos com seu desejo, o deus pediu em troca que o rei sacrificasse um touro branco. No entanto, Mitos ficou impressionado com a beleza do animal e resolveu mantê-lo vivo. Como castigo, Posídon fez com a que a esposa de Mitos se apaixonasse pelo touro e ficasse grávida do animal. A partir disso, nasceu o minotauro, uma criatura com cabeça de touro e corpo de homem. O rei Minos, com a intenção de esconder o minotauro, trancou-o dentro de um labirinto e enviava para lá alguns jovens anualmente para que a criatura os devorasse. Na época do envio do terceiro grupos de jovem a serem sacrificados, o herói Teseu conseguiu matar o minotauro. Essa lenda costumava ser contada oralmente na Grécia Antiga como uma maneira dos gregos ensinarem o que poderia acontecer com aqueles que desrespeitavam ou tentavam enganar os deuses.
            Há também o mito da Medusa, um monstro com corpo de mulher e cabelos de serpentes. De acordo com a lenda, se uma pessoa olhasse diretamente para os olhos da Medusa, essa pessoa seria transformada em pedra. O herói Perseu foi o único capaz de derrotar essa criatura; após olhar apenas para o reflexo dela em um escudo espelhado (o que não o transformou em pedra), Perseu a decapitou com sua espada. A história de Medusa poderia ser considerada, por muitos gregos, como uma metáfora para a fúria feminina.
            A Hidra de Lerna era outro ser da mitologia grega, caracterizada como sendo um animal com corpo de dragão e nove cabeças de serpente. Ela era capaz de matar os homens apenas com seu hálito venenoso. O herói Héracles (ou Hércules, segundo a mitologia romana) conseguiu derrotar esse monstro. A Hidra foi criada pela deusa Hera, que, ao perceber que Héracles iria matar o animal, enviou um caranguejo até o local do combate para que este ajudasse a Hidra na luta. No entanto, o herói pisou em cima do caranguejo, convertendo-o na constelação de Câncer.
            Os gregos realmente acreditavam na existência dessas figuras mitológicas. Alguns sentiam medo de tais criaturas e ficavam sempre preocupados com a possibilidade de encontrarem pessoalmente esses animais. Para outros, as lendas tinham o simples objetivo de passar algum ensinamento vinculado às normas da sociedade grega ou ao respeito que deveriam ter diante dos deuses. Em suma, os mitos faziam parte do mundo e da vida dos cidadãos da Grécia.

                                                                                                                      
Fontes:

A história de Pégaso



           Uma das figuras mais emblemáticas da mitologia grega é Pégaso, o cavalo alado. A sua lenda envolve um número enorme de outros seres mitológicos, como Posídon, Medusa, Perseu, Belerofonte, Quimera, Atena e o próprio Zeus. Portanto, o mito de Pégaso era de extrema importância para a cultura grega.
            Segundo a lenda, Posídon (Netuno para os romanos), deus do mar, era apaixonado por Medusa, um monstro com cabelos de serpente e que tinha o poder de transformar as pessoas em pedras. No entanto, o deus nunca tinha conseguido tocá-la. Quando o herói Perseu derrotou Medusa cortando-lhe a cabeça, uma gota do sangue dela caiu em contato com a água, provocando um enorme estrondo. Surgiu, então, uma espuma branca sobre a água e um belo cavalo de pelagem branca e com asas emergiu. Foi assim que nasceu Pégaso, filho de Posídon e Medusa.
            Após seu nascimento, Pégaso bateu com seus cascos no chão do monte Hélicon, fazendo brotar nesse local a fonte de Hipocrene, que se tornou famosa como um símbolo de inspiração para a poesia. Quem bebesse das águas sagradas da fonte, viraria um poeta. A partir disso, muitos homens tentaram capturar o cavalo para domesticá-lo, mas ninguém conseguiu.
            Algum tempo depois, o monstro Quimera – um monstro com cabeça e corpo de leão, com duas cabeças anexas, uma de cabra e outra de serpente – estava devastando a região de Corinto, atacando rebanhos com os fogos que lançava por suas narinas. O herói Belerofonte decidiu então lutar contra Quimera, mas jamais conseguiria vencer sozinho. A deusa Atena resolveu ajudá-lo, entregando-lhe uma rédea de ouro para que domasse Pégaso. Com o auxilio do cavalo alado, Belerofonte poderia derrotar Quimera. Sendo assim, Belerofonte e Pégaso conseguiram matar o monstro e salvaram a região de Corinto.
Após esse feito, algumas pessoas passaram a acreditar que o herói era um ser divino. Deixando-se dominar pelo orgulho e pela vaidade, Belerofonte achou que seria capaz de voar com Pégaso até o Olimpo, a morada dos deuses, para juntar-se a eles. No entanto, Zeus ficou zangado com essa atitude e mandou uma abelha picar o cavalo enquanto este voava até o Olimpo. Ao ser atacado, Pégaso descuidou-se e deixou Belerofonte cair no chão. Atena decidiu ajudar Belerofonte mais uma vez e fez com que a terra ficasse mole para que o herói não morresse ao colidir com o chão.
Zeus permitiu que Pégaso continuasse a subir cada vez mais alto até alcançar as estrelas e transformou-o na constelação de Pegasus. Depois desse episódio, Belerofonte passou o resto da sua vida como um mendigo, procurando por seu cavalo alado, mas sem nunca conseguir encontrá-lo, pois este estava vivendo entre as estrelas.

Fontes: